Do gosto pela pesquisa a um episódio recente de censura, os desafios de exercer o jornalismo interessado na diversidade das histórias

André Costantin é formado em Jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul, mas antes de sua formação, teve contato com diversas áreas: fez trabalhos como eletricista, atuou em eletrônica e eletrotécnica, foi bancário e chegou a ter uma oficina de bicicletas. Como um bom jornalista, sempre foi curioso e interessado pela pesquisa. Seu primeiro trabalho na área foi no impresso, ainda durante sua graduação.

Em 1999, iniciou com a produtora Transe, e com ela, André foi responsável por dar visibilidade à cidade de Caxias do Sul no cenário de produções audiovisuais do interior do país. 

Foi através da série documental ‘Vento Sul’ (2017) que a produtora ascendeu ainda mais, tendo seu conteúdo exibido pelas TVs Cultura e Brasil. Essa série foi desenvolvida por meio de um edital da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para conteúdos destinados à rede de TVs públicas. Nestes 30 anos do curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul, nada mais justo do que falar com ele, que também foi formando da primeira turma.

André, há 30 anos, quais eram os teus objetivos como jornalista?

Ser jornalista não foi algo planejado, porque o primeiro vestibular que prestei foi para Biologia: tinha o sonho de ser zoólogo desde a infância. Na juventude, embarquei naquela doce ilusão de querer mudar o mundo e decidi fazer Jornalismo. Iniciei o curso na Unisinos, em São Leopoldo. Após dois anos de estudos, saí do Brasil durante um ano, e quando voltei já havia o curso de Jornalismo em Caxias. Assim, me formei na Universidade de Caxias do Sul.

Nessa trajetória, o que te provoca orgulho?

Colecionei histórias pessoais de enfrentamento, de abordagem aprofundada em alguns temas e testemunhei muita coisa. No impresso e na TV, sempre fui radical – nunca abri mão das minhas visões. Me orgulho também de ter aprendido a escrever razoavelmente bem.

Que experiências o jornalismo independente te garantiu?

Para mim, só foi possível exercer a profissão fora do padrão. No tradicional, não consegui. Aliás, eu acho que tinha todos os elementos para fazer a tal da “carreira”, mas eu nunca consegui atuar no jornalismo tradicional, porque me coloquei barreiras intransponíveis na profissão e “pulei fora” quando percebi que tinha um ferramental suficiente para fazer isso. Migrei para a área audiovisual, com foco na pesquisa e produção de elementos culturais, etnográficos, paisagísticos, da história e da antropologia. Enquanto exercia o convencional, não estava dentro da roupa que me cabia, entende?

Com foco na inclusão e na representatividade, como tu idealizas teu trabalho e seu viés cultural?

Com tudo que já fiz, dá para montar uma espécie de museu de personagens, né?, e, naturalmente, me deparei com aspectos etnográficos. Assim, falei sobre questões afro-brasileiras – especialmente do Sul do Brasil – imigração e muitos aspectos de história e de grupos.

Tu participou de um edital, lançado para a produção de uma série sobre sexualidade, que foi barrado pelo governo Bolsonaro. O que isso representa pra ti?

Me deu raiva, mas me deu um baita de um orgulho! Tenho orgulho pelo fato de ter sido, talvez, o primeiro crime de responsabilidade desse fascista que está na presidência do país. Ele censurou obras que estavam concorrendo em um edital nacional e eram bem pontuadas.

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