Estudante de Jornalismo da UCS relata sua experiência na cobertura da competição internacional que também desafia os profissionais na busca de uma comunicação inclusiva

A comunicação é um processo social que permite a troca de informações pelos mais diversos meios. E a voz é um dos primeiros recursos que nos remete ao ato de comunicar. Porém, quando ela não está presente, surgem novos desafios. É o que estamos vivenciando em Caxias do Sul, que  sedia até o próximo domingo (15/05) um dos maiores eventos esportivos do mundo, a Surdolimpíadas.

Competição multiesportiva de cunho internacional, a Surdolimpíadas é organizada pelo Comitê Internacional de Esportes para Surdos (ICSD – International Committee of Sports for the Deaf). Foi a primeira organização a incluir atletas com necessidades especiais. A edição número um aconteceu no ano de 1924, em Paris.

Caxias do Sul torna-se a primeira cidade da América Latina a acolher o evento. Estão participando mais de 4000 atletas e mais de 80 países representados. Para isso, foi preciso que não só espaços passassem por adaptações, mas também as pessoas envolvidas, como os comunicadores presentes no evento.

A respeito desse contexto, conversamos com  o  estudante de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul e repórter da Rádio Caxias, Bruno Mucke, que está realizando a cobertura de alguns jogos do evento. Segundo ele, a experiência nas Surdolimpíadas está sendo muito interessante, algo que ele mesmo não tinha imaginado antes, já que é o terceiro maior evento esportivo do mundo, ficando atrás apenas da Copa do Mundo e Olimpíadas. Ao entrar na Vila Olímpica na Cidade Universitária da UCS e ver os QGs de cada país, o jornalista percebeu a magnitude do evento. 

Bruno ressalta a troca de experiências e o fato de estar convivendo com realidades totalmente diferentes. O desafio que esse contexto impõe não é somente o da linguagem, mas de passar a informação sem se deixar emocionar por essas realidades. Dar voz sem passar a própria emoção. De acordo com Mucke, o jornalista dá voz ao povo e se o povo não consegue falar, tem que entendê-los de outra maneira.

O estudante de Jornalismo explica que em entrevistas é necessário que esteja presente um tradutor para Língua Internacional de Sinais e um intérprete que traduza os sinais dos atletas em palavras para o jornalista. Diante dessa realidade, cresce a expectativa de que as Libras e a Língua Internacional de Sinais ganhem ainda mais espaço no cotidiano. Mucke comenta que o desafio é amenizado com a grande presença de voluntários no evento. “Eles tornam possível a comunicação entre o jornalista e as delegações da nações competidoras”, destaca.  

E são muitas histórias compartilhadas durante as Surdolimpíadas que o impactaram e o desafiaram a não deixar sua comoção transparecer. No dia três de maio, nos pavilhões da Festa da Uva, em Caxias do Sul, a delegação ucraniana convocou uma coletiva de imprensa, onde pedia o fim da guerra no país. Bruno afirma relata  que eles estão em cima de incertezas e o esporte está sendo a esperança deles. “Dá para ver isso nas palavras deles”, enfatiza. 

A Ucrânia é uma potência no esporte surdo. Mucke conta que o próprio chefe da delegação, Leonid Kautskyi, disse que nesta edição do evento teve que deixar um terço dos atletas no país por conta do conflito. E afirmou que o time está aqui, mas seus corações estão em seu país.

Outra história emocionante é a do meio-campo Douglas Candido Almeida da Silva da Seleção Brasileira de Futebol. O estudante de Jornalismo conta que Douglas começou a perder a audição com 22 anos devido a uma doença degenerativa enquanto ainda jogava em clubes menores do esporte. Hoje, o atleta consegue escutar parcialmente por conta de um implante auditivo. 

Bruno Mucke em entrevista com o atleta Douglas da Silva nas Surdolimpíadas

O futebol, esporte de Douglas, faz parte da rotina de trabalho de Mucke, que é repórter da dupla “CAJU”, os times Caxias e Juventude, em Caxias do Sul. Porém, nessa cobertura o desafio é falar de outros esportes. “Para passar a informação em um evento poliesportivo como a surdolimpíadas é preciso ‘pensar fora da caixa’. Deve-se estudar e conhecer mais de cada modalidade”, relata. 

Há também a expectativa do repórter de divulgar a conquista de uma medalha de ouro do Brasil na competição, e que seria a primeira da história do país nas surdolimpíadas. Assim como o desejo de que a competição possa aumentar sua visibilidade não somente no Estado mas em todo o país após essa edição. E como comunicador, Bruno Mucke destaca o grande aprendizado das Surdolimpíadas: “uma das maiores coisas que eu aprendi, é até estranho eu falar isso, mas é saber ouvir e saber entender”. 

E a equipe do Comunicaverso também acompanhou a competição e esteve presente no jogo de handebol entre Sérvia e Alemanha no dia cinco de maio, no ginásio poliesportivo da Cidade Universitária. Confira!

Charlotte from zach dorn on Vimeo.

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