“A minha motivação é chegar em um nível que eu possa ser referência para as pessoas que estão começando a carreira”

O modelo conta sobre a sua inesperada chegada ao mundo da moda e ressalta experiências dentro e fora da passarela

João Vitor de Almeida Silva, modelo paulista, radicado em Caxias do Sul, conta como foi a sua chegada na agência The Best Brazil Models e o início da carreira como modelo. Além de comentar sobre as vivências dentro e fora da passarela, e das dificuldades por conta da sua identidade racial.

por Camila de Oliveira da Silva*

Camila de Oliveira da Silva: Como começou a carreira de modelo?

João Vitor: Eu não me imaginava sendo modelo (risos). Tudo começou com uma amiga me incentivando a virar modelo e eu falando que meu “negócio” era jogar futebol (risos). Como o namorado dela fazia alguns trabalhos como modelo, ela mostrou minhas fotos para a booker da minha atual agência, que é a The Best Brazil, e a booker me amou. Quando eu fui ver eu já era modelo (risos). Conversei com ela (a booker) no domingo, na segunda- feira, fui na agência, como quem não queria nada, saí de lá, com o contrato assinado, e recém apresentado ao booker internacional, que também me amou. Já pediu para eu gravar vídeo para o internacional. Foi a primeira vez que eu desfilei, e nossa, foi horrível (risos).

C: Como você se prepara para os desfiles ou as sessões de fotos?

J: Eu treino toda a semana com o meu personal. E, dependendo das fotos que eu vou fazer, eu tenho que me preparar antes desde a alimentação até o treino. Dependendo dos jobs, eles precisam de medidas exatas, então não pode aumentar nada e nem diminuir nada (em relação às medidas corporais), e também seguro um pouco na comida.

C: Quando termina os desfiles ou as sessões de fotos, como você se sente?

J: Cansado (risos). Fazer fotos cansa muito, mais que fazer desfile. Tudo bem, que no desfile tem que tá trocando a roupa, sempre aquela adrenalina, mas as fotos são cruéis. Não parece, mas toda hora tem que estar fazendo pose. É cansativo.
“Então, modéstia à parte mas eu estou no mesmo feed que a Alcione.”

C: Como foi participar do São Paulo Fashion Week?

J: Aconteceu dois meses depois de eu ter entrado na agência. A preparação para o SPFW, foi coisa de outro mundo. Como eu tinha comentado, eu não sabia desfilar. Em um sábado de tarde, fiquei o dia inteiro treinando. Uma semana antes, descobri uma informação que eu não queria ter descoberto, que para eu conseguir desfilar eu precisaria ter 18 anos ou ser emancipado. Eu estava com 17 e 10 meses. Corri atrás para ser emancipado. Não deu tempo, eu não pude desfilar, mas eu participei das fotos da campanha, então, não foi totalmente perdido.

C: Qual foi a sensação de estar no feed de diversos perfis de moda no Instagram depois de participar das fotos do SPFW?

J: No primeiro momento, minha ficha não caiu. Eu fui para a SPFW e apareci nos perfis, e fiquei tranquilo. Agora, que eu tô me dando conta que eu fui para lá mesmo. Quando caiu minha ficha mesmo, foi quando eu apareci no Instagram da ELLE, e eu olhei, e dois posts antes, era um post da Alcione com a Ludmilla. Então, modéstia a parte mas eu estou no mesmo feed que a Alcione. (risos)

C: Já enfrentou algum desafio específico por ser um modelo negro?

J: Minha experiência na ExpoBento. Eu fui duas vezes, a primeira para fazer entrada ao vivo na RBS, e a segunda para desfilar, que eu desfilei em dois dias. Enquanto eu estava no espaço da ExpoBento, a gente andava pelos corredores, era como se eu fosse um alienígena. Eu não percebi, mas o outro modelo me falou que todo mundo estava me olhando. Ai, eu comecei a reparar. É meio estranho, mas engraçado.

“Eu gosto muito da ideia de ser visto como uma referência.”

C: O que você gostaria que as agências e marcas soubessem sobre a experiência de ser um modelo negro?

J: Acredito que a parte que eles deveriam focar para preparar os modelos, principalmente os que estão em desenvolvimento, que são os mais novos, é preparar eles para entenderem que são diferentes, principalmente aqui no Rio Grande do Sul, que vão entrar em um ambiente que só vai ter eles de pessoas pretas, que eles estão ali porque todo mundo quer eles no casting. Esse é o principal ponto que deveria ser reforçado com os modelos.

C: Como é o apoio da família?

J: Meus familiares ficaram com um pé atrás, mas depois do primeiro job, depois da primeira conversa com a agência, eles me apoiaram. É uma coisa super diferente, super legal. Até na ExpoBento, no último dia de desfile, minha madrinha, meu padrinho, meus dois tios e minha irmã foram me ver desfilar. Então, tem esse apoio que é bem legal.

C: Tem alguma inspiração?

J: Uma das referências que eu gosto é Michael B. Jordan. Os jogadores de basquete, no geral, deitam muito no estilo. Outro jogador que também sempre está bem vestido é o Giannis Antetokounmpo.

C: Qual a motivação para continuar sendo modelo?

J: Eu gosto muito da ideia de ser visto como uma referência. Então, pra mim, a minha motivação é chegar em um nível que eu possa ser referência para as pessoas que estão começando a carreira, que elas olhem pra mim e pensem “se um cara que era jogador de futebol que não sabia desfilar, conseguiu, eu também consigo”.

C: Quais os objetivos dentro da indústria da moda você pretende alcançar?

J: Meu principal objetivo, mais perto de alcançar, é voltar para o São Paulo Fashion Week e agora conseguir desfilar. O próximo objetivo assim, que eu ficaria extremamente feliz, é desfilar para uma marca que o nome é Meninos Rei, uma marca só de cultura africana. Também, claro, estar em Milão.

* Estudante da Disciplina: Fontes, Entrevista e Tratamento de Dados
Professor: Marcell Bocchese
Trabalho: Entrevista Pingue-Pongue
Semestre: 2023/4

Foto: Rony Hernandes

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