A terceira noite da Semana Acadêmica de Comunicação de 2021 discutiu um tema muito importante para nossa área: a representatividade das diversas mulheres.

Logo que aparece o rosto de Iasmin na tela do YouTube, uma pequena placa em inglês diz ao que veio: “eu nasci para contar histórias”. Na palestra “As mulheres latinas: da fotografia ao audiovisual”, evento de quinta-feira à noite, 23, da Semana Acadêmica dos cursos de Comunicação da UCS, o foco da fala da fotógrafa e diagramadora Iasmin Schleder foi ajustado para as suas vivências na área do audiovisual. A fala de Iasmin cativou os estudantes com uma fala forte e precisa sobre o empoderamento das mulheres que lutam por espaço no mundo da arte.

“Quais são as mulheres artistas latino-americanas que você conhece?” Iasmin Schleder

Iasmin apresentou uma provocação logo no início da sua fala: quais mulheres artistas latino-americanas que você conhece? Segundo ela, é bem chocante quando se faz essa pergunta, pois as pessoas não lembram de mulheres fotógrafas e cineastas. Diante da falta de respostas do público, ficou nítido que não há um conhecimento claro. Após, Iasmin citou várias artistas e mostrou alguns trabalhos de mulheres potentes e inspiradoras, entre as quais a cubana Ana Mandieta, uma performer, escultora, pintora e vídeo artista cubana. A palestrante citou a brasileira Letícia Parente, precursora da videoarte Brasil – nos anos 1970 (auge da ditadura no país) – e apresentou um dos seus trabalhos, “Made in Brasil”, que causou “arrepios” entre os estudantes que assistiam. A imagem analógica de uma mulher, empenhada em seus gestos simbólicos, mostra alguém que reconstruiu sua fisicalidade por meio de um aparato até então novo, em favor de uma poética do corpo virtual – palavra que ainda não cabia na gramática dos anos de 1970.  Os trabalhos da cineasta contemporânea Fernanda Pessoa, um retrato do Brasil atual, e de Lissette Orozco, diretora do documentário “O Pacto de Adriana”, também foram apresentados. Este último toca em percursos históricos sob um prisma que se inicia dentro de casa, a partir de sua relação com a querida tia Chany, ou Adriana Rivas, torturadora famosa do regime chileno de Pinochet.

A palestrante também tratou sobre a temática do corpo território, a “body arte”, onde o público pode reviver uma experiência no corpo da artista. Conforme Iasmin, investigar as obras produzidas por mulheres artistas latino-americanas, que teriam sido marginalizadas e silenciadas por uma história da arte dominante, fortalece e aprofunda o debate acerca da construção identitária na contemporaneidade e tece fricções entre a América Latina, a arte, a cultura e o sujeito, que passam nelas narrativas do corpo, identidade território e exilio.

Rosa Paulina, artista negra, que levou muito tempo para ser reconhecida, foi outra artista enfatizada por Iasmin Schleder, que mostrou as principais obras como “Bastidores” com fotos de arquivo da própria família e fez suturas nas fotos em bastidores de bordado. O trabalho trouxe o sucesso à Rosa Paulino depois de 25 anos de carreira. As intervenções fotográficas “Assentamento” e “Parede da Memória”, que abordam questões do racismo e da mulher negra que não é vista como pessoa, também foram destacadas.

Outra artista inovadora mencionada pela palestrante foi a cantora Luedji Luna, a primeira artista a trabalhar com um álbum visual que carrega referências sobre religião e do seu entendimento enquanto mulher negra da presença feminina na arte. Todo o álbum “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água” foi concebido e produzido por mulheres.

A palestrante finalizou a sua fala com outra provocação: pensem que narrativas seu corpo território representa. Mulheres potentes e inspiradoras no audiovisual foi uma ótima história contada pela Iasmin Schleder.

Comunica 2021 – Semana Acadêmica dos cursos de comunicação da UCS Palestra: Mulheres latinas da fotografia ao audiovisual Palestrante: Iasmin. Mediadora: Lauren Fogaça

Iasmin Schleder é formada em Fotografia pelo Centro Universitário FADERGS e pós-graduanda em Direção de Arte para Propaganda e Artes Visuais pela USCS. Há dois anos, durante a graduação, realizou um intercâmbio no IADE – Creative University em Lisboa/Portugal, onde cursou Fotografia e Cultura Visual. Ela participa, desde 2017, como jurada convidada no FECEA – Festival Internacional de Cinema Escolar de Alvorada. Uma das idealizadoras da Teto Coletivo, projeto que busca fomentar a experimentação e a visibilidade para mulheres artistas emergentes, Iasmin também é uma das realizadoras da ONG Fora da Asa. Ela atua desde 2018 como arte-educadora ministrando cursos na área de fotografia e performance.

Autor: Prof. Edson Luiz Scain Corrêa

Deixe um comentário