Uma conversa intimista com a Amiga do Livro da Feira Literária de 2023

Às luzes do início da 39º edição da Feira do Livro de Caxias do Sul, a pedagoga e agora Amiga do Livro, Aline Luz, abre as portas do Teatro Municipal Pedro Parenti para contar mais da trajetória pessoal e profissional que resultou no privilégio de receber o título nesta edição:

Por Leonardo Iob de Oliveira*

Leonardo Iob: Quem é a Amiga do Livro da 39º edição?

Aline Luz: Então, sou Aline Luz, pedagoga de formação, especialista em Literatura Infantil e Juvenil, e musicista. Tenho um grupo de histórias cantadas chamado “Era uma dó-ré-mi”, junto com meu esposo, que é contrabaixista. Tenho um espaço de ensino, atendo as crianças no contraturno da escola também. Então, eu trabalho muito com as infâncias. Eu e a feira temos uma relação já bem longa, um tempo grande de palco e parcerias, e é isso.

L.I: Qual foi a sensação de ser convidada como Amiga do Livro da 39° Feira do Livro de Caxias do Sul?

A.L: Nossa! Senti uma alegria imensa, né? Porque essa relação, como eu disse, já vem do tempo, e eu sou uma defensora ferrenha da literatura, principalmente no chão da escola. Então, eu trabalho muito com as escolas, com as bibliotecárias, e acho que a primeira formação do leitor é nas escolas, e a Feira proporcionar isso é através do acesso à leitura. Então, sou uma apaixonada por esse evento. Foi incrível, assim, vai tá sendo incrível, né? Toda essa… ainda estou flutuando.

L.I: Como é para você conciliar o trabalho como pedagoga e educadora com o ofício da escrita?

A.L: Então, as crianças que convivem comigo sabem que comigo tudo vira história. Então, às vezes, estamos no refeitório conversando e surge uma história. Estamos no meio de um atelier e surge uma história. Então, essa relação é muito próxima, assim, né? Normalmente, quando eu faço alguma coisa, vai um livro de um.

L.I: E de onde veio o amor pela educação na primeira infância?

A.L: Olha, acho que veio desde pequena. Assim, eu sempre gostei muito da leitura, sempre curti muito a biblioteca da escola, né? Então, eu frequentava bastante a biblioteca da escola e ficava muito chateada com aquelas colunas que não eram pra minha idade, que eu queria, que eram pra outra idade, então não podia. Mas sempre gostei bastante, contava muitas histórias para os meus primos e normalmente sempre inventava uma história. E depois que fui mãe, que tive minhas filhas, mais ainda. Minha filha está fazendo 15 anos agora e tenho outro de 8, então a leitura sempre esteve muito presente conosco.

L.I: Nesta edição, Amiga do Livro, mas em edições anteriores, contadora de histórias, como foi essa experiência?

A.L: Foi uma experiência que foi aumentando gradativamente. Comecei num palco pequeno, depois no outro ano, fomos para o palco infantil com o grupo “Era Uma Vez dó-ré-mi”, e não tinha espaço para as crianças, tinha criança “saindo pelo ladrão”. Na segunda edição, nos colocaram no palco principal e assim fomos indo. Aí teve o período de pandemia, tivemos duas edições que aconteceram de forma online, que foram muito difíceis porque a relação com o público é uma coisa necessária para o contador de história, precisa dessa troca de energia, essa energia que você deve ter visto um pouco aqui hoje. E estamos aqui neste ano, lançamos nosso livro ano passado, o livro “Era Uma Vez dó-ré-mi”, com ilustrações feitas pelas crianças através da lei municipal de acesso à cultura. E este ano, como Amiga do Livro, né? Eu não quero mais nada, estou realizada!

L.I: O que você busca ensinar com suas histórias?

A.L: De todas as mensagens, acho que a mais bonita é ser criança. Aproveite sua infância, lá no nosso espaço e nas escolas, eu trabalho o resgate das infâncias, o resgate das brincadeiras, o brincar na terra, o pé no chão, ou pular corda, jogar bolinha de gude. Isso precisa ser resgatado com as crianças, a criança é brincante por natureza e precisa disso, dessa relação de brincadeiras. Então, é isso, seja criança.

L.I: De onde surgiu a ideia do “Era uma vez dó-ré-mi”?

A.L: Então, eu sempre gostei muito de música e acabei misturando um pouco a música e as histórias e na rotina com meu esposo, que é contrabaixista, acabamos fazendo muitas músicas. E um dia eu disse:
— Não, a gente precisa colocar isso para fora! A gente precisa mostrar esse trabalho —
Fazíamos músicas nos shows, fazíamos brincadeiras, mas aí surgiu a oportunidade de gravar o livro-álbum, com as letras das nossas músicas. Dentro do livro, tem um QR Code que as pessoas podem acessar e ouvir as músicas e poder usar à vontade.

L.I: Foi difícil a elaboração de um projeto que misturasse um livro e um disco?

A.L: Quanto às ilustrações, pensamos em fazer junto com as crianças. Coletamos ilustrações das crianças daqui da serra gaúcha, crianças da Itália, crianças do Rio de Janeiro e crianças de São Paulo. Ficou lindíssimo.


L.I: Qual é o sentimento de levar magia ao imaginário das crianças através das narrativas lúdicas?

A.L: É muito emocionante, confesso que quando estamos no palco, quando o contador está no palco, ele meio que entra em alfa. Eu não enxergo muitas crianças que estão ali na frente porque estou muito imersa na história. Já quando atuo na sonoplastia, tenho a oportunidade de ver esse outro lado, de enxergar mais o público do que normalmente consigo observar. É muito mágico isso, poder ver os olhos brilhando, a interação das crianças, a entrega que elas têm na história, a conexão com o contador. Isso é incrível! São coisas que elas vão levar para a vida inteira.

L.I: Quem é Aline fora da docência? Dos palcos e da música?

A.L: Então, olha só, Aline é mãe, uma mãezona bem chata assim, muito, muito coruja. Hoje, tenho a oportunidade de estar com minhas filhas 24 horas por dia, porque elas estão no meu espaço comigo. Então, convivemos muito e agradeço muito por isso, porque consigo vivenciar todos os momentos com elas. Sou proprietária do meu espaço, então empresária também, que também não é fácil. Tenho que conciliar todas essas questões, assim, muito inquieta. Estou sempre buscando conhecimento de várias formas e de várias fontes.

L.I: Qual é o próximo projeto do grupo “dó-ré-mi”?

A.L: Ai! Não posso dar muitos spoilers, as pessoas do grupo vão me brigar depois —risos— Mas estamos com um projeto bem interessante, com um livro que estamos buscando pesquisar sobre as brincadeiras italianas, porque temos amigos muito queridos na Itália e fazemos muitas trocas. Quais brincadeiras que acontecem lá, cantigas de roda, e que se conectam com as brincadeiras daqui. Então, queremos fazer isso, a produção de um livro falando sobre as brincadeiras daqui e da Itália.

L.I: Você almeja ser Patrona da Feira do Livro de Caxias do Sul? É importante dar esse espaço para escritores infanto-juvenis?

A.L: Concordo contigo plenamente, mas teria vários nomes a indicar antes do meu, se for. Mas com certeza, é uma honra imensa! E este ano, o patrono é o doutor e escritor Francisco Michelin, é uma pessoa incrível e que está fazendo uma diferença imensa também. Então, com a 40° feira, com certeza, vai ter um peso bem maior. Tenho certeza que vai ficar gravado muito forte o patrono, então acho que essa oportunidade eu passo.

* Estudante da Disciplina: Fontes, Entrevista e Tratamento de Dados
Professor: Marcell Bocchese
Trabalho: Entrevista Pingue-Pongue
Semestre: 2023/4

Foto: Leonardo Iob (Divulgação)

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