Jornalista conta como é estar à frente de um dos programas mais tradicionais do estado com apenas 32 anos, comenta sobre o salto que o levou da previsão do tempo a ancoragem e ainda revela se deseja estabelecer sua carreira no Rio Grande do Sul

Por Maria Eduarda Salvador Schiavenin*

Com o Jornal do Almoço acontecendo em um novo formato, Marco Matos, antes responsável pela previsão do tempo, agora atua na apresentação do programa ao lado de Cristina Ranzolin. Aos 32 anos, o jornalista conta como foi o convite para ancorar o JA e o processo de criação do novo formato, além de revelar se deseja atuar no jornalismo nacional e confessar se tem dimensão da sua relevância no estado enquanto jornalista.

Maria Eduarda Schiavenin: Qual dessas “funções” você prefere ou tem mais afinidade: reportagem, previsão do tempo ou ancoragem?

Marco Matos: Então… é difícil responder a essa pergunta, porque cada aspecto diferente da nossa profissão tem as suas características. Eu amo ser repórter e acho que eu nunca vou deixar de ser repórter, porque é a função que eu mais me identifico, do ponto de vista de que eu gosto de contar essas histórias que eu descubro na rua. Então, minha formação enquanto jornalista é realmente sendo repórter. Foram oito anos fazendo só isso todos os dias e, mesmo depois que eu parei, fui para a previsão do tempo e agora na apresentação, eu não deixo de gostar de estar na rua. Eu procuro ancorar alguns programas na rua, gosto de fazer o Jornal do Almoço – esses que a gente vai pras comunidades, pras festas – porque é nesse espaço, perto das pessoas, que eu mais me encontro.

MES: Como foi esse salto, da previsão do tempo para a ancoragem, de um programa tão relevante como o Jornal do Almoço?

MM: Foi bem natural. Era uma projeção de carreira já que eu tinha, eu estava trabalhando pra isso e na previsão do tempo eu pude ampliar um pouco meu conhecimento e começar a tomar espaço do próprio estúdio, aprender, porque é um pouco diferente. A gente passa a manhã apurando as informações, preparando as reportagens e na apresentação é uma condução da notícia, ou seja, tu apresenta ela pro telespectador. Então, esse período, foram três anos na previsão do tempo, foi como uma grande preparação né, pra que eu conseguisse circular no estúdio com naturalidade.

MES: Agora o Jornal do Almoço funciona em um novo formato. Como foi esse processo de criação, vocês tiveram participação?

MM: Claro! Foi um projeto feito a muitas mãos. Claro que teve um time que liderou esse projeto da reformulação. Aqui, foi a pessoa do Silvio Barbizan, que é o nosso editor-chefe; Mas, praticamente todo mundo da empresa colaborou com ideias, sugestões… A revisão do formato foi muito pensada para criar mais proximidade com o telespectador, tentando resgatar algumas coisas que a gente já tinha no passado, ou seja, um programa que tem mais de cinquenta anos. A gente revisitou um pouco a história do programa, trouxe de volta alguns elementos como o sofá pro estúdio, mas atualizando esse formato pro que as pessoas procuram hoje, que é realmente se sentirem mais perto do jornalismo. O nosso estúdio passa a ser uma extensão da casa do telespectador, isso na linguagem visual da reformulação.

MES: Qual foi o maior desafio dentro dessa mudança de formatos?

MM: Eu acho que o maior desafio é entender, assim… quando eu tava na previsão do tempo eu sempre trazia uma notícia pras pessoas, uma informação, que sempre foi relevante no ponto de vista da vida da pessoa né, saber como ficaria o tempo. Às vezes era uma notícia muito legal, que era um super sol no fim de semana, às vezes era uma notícia não tão legal, mas ao mesmo tempo é muito difícil de noticiar algo muito ruim. Eu sempre tentei trazer para a previsão do tempo uma pegada mais de bom-humor, deixando uma conversa tranquila entre a relação que eu tinha com o telespectador. Quando isso passa pro telejornal em si, a gente infelizmente tem que dar muita notícia ruim, notícias que não são legais né, assaltos, roubos, mortes, problemas de saúde… Isso é um trabalho diário que eu faço, de contar as coisas pras pessoas sem deprimir elas, sabe? Eu não quero acabar com o dia da pessoa quando eu trago uma notícia ruim, eu quero deixar ela informada. Isso é empatia também com o telespectador, principalmente esse telespectador que nos assiste na hora do almoço, junto com a família.

MES: Como aconteceu o convite para apresentar o Jornal do Almoço?

MM: Foi bem natural. Eu até já esperava que fosse acontecer naturalmente, mas até acho que aconteceu antes do que de fato eu esperava que fosse acontecer, porque eu ainda me acho jovem. Embora tenha começado cedo, tenho aí mais de dez anos na profissão. Eu me preparei bastante, quando chegou a hora assim eu fiquei muito feliz, porque é algo que eu gosto muito de fazer.

MES: Qual a sensação de dividir o programa com a Cristina Ranzolin, que é uma jornalista tradicional e de renome aqui do estado?

MM: É o que eu falo pra ela né, eu cresci assistindo ela na televisão. E realmente, isso é verdade, ela sabe. Quando eu era pequeno, eu já via ela e talvez esse seja um dos grandes motivos de eu ter feito jornalismo, foi por gostar muito do Jornal do Almoço. Eu sempre almocei junto com os meus pais assistindo ao Jornal do Almoço, isso pra mim era um hábito muito antes de eu querer pensar em fazer jornalismo e, obviamente, eu via a Cristina Ranzolin em atividade. E hoje dividir com ela, às vezes eu te confesso que até olho assim pro lado e penso “caramba, que legal!” (risos). Mas é uma satisfação muito grande porque ela sempre foi muito generosa comigo. Ela me ensina muito, é muito profissional, é uma pessoa extremamente humana e trabalhar do lado dela me engrandece enquanto jornalista também.

MES: Tu acredita que a visibilidade que tu alcançou a partir do JA possa colaborar de alguma forma para uma projeção tua no jornalismo nacional?

MM: Sabe que eu não penso muito isso? Eu decidi, uns anos atrás, estabelecer minha carreira aqui no Rio Grande do Sul. Essa foi uma decisão bem amadurecida, ainda quando eu topei o desafio de largar a reportagem. Até aquele momento, eu tinha ambição de talvez ser repórter em outro lugar, eu já trabalhei em outro estado, trabalhei em uma outra afiliada da Globo no Paraná, e eu ainda tinha assim aquela vontade mesmo, sabe? De me tornar um repórter de alguma rede nacional mesmo. Mas, depois a gente vai amadurecendo, vai tendo outros planos de vida, e eu realmente remodelei a minha carreira pra que eu construa algo aqui no estado. Eu gosto de morar no Rio Grande do Sul, eu sou feliz aqui, e eu almejo realmente continuar aqui, fazendo meu trabalho aqui, até pra acreditar no jornalismo local, na necessidade de tratar com seriedade os assuntos que impactem os gaúchos. Então minha carreira é aqui hoje.

MES: Atualmente, qual tua maior meta como jornalista?

MM: Minha maior meta como jornalista eu acho que é diária. É chegar no jornal, e realmente fazer a diferença na vida das pessoas, não apenas informar elas. O jornalismo local, principalmente, ele tem várias funções: prestar serviço público, cobrar mudanças e fazer com que a sociedade perceba o que deve ser feito, as ações que são necessárias hoje para melhorar o futuro. Fazer um jornalismo de soluções.

MES: Tu tem dimensão da referência jornalística que tu é para a minha geração de jornalistas?

MM: Eu não tenho muito (risos), sabe que eu fico bem contente. Quando eu vou nas Universidades, encontro alguns, encontrei uma estudante de jornalismo da PUC em um restaurante no último domingo. Converso muito, gosto bastante, já considero todo mundo que entra no primeiro dia de jornalismo como colega, porque acho que jornalismo é mais do que uma profissão, é uma missão mesmo, a gente faz isso por ter ideais bem definidos. E eu fico muito feliz em saber que eu consigo transmitir pra essa galera mais jovem, eu ainda me considero jovem tá (risos), mas pra galera mais jovem que eu, um pouco dessa energia que a gente precisa ter. O nosso mercado não é um mercado simples, a nossa função não é uma função das mais fáceis, a gente tem muitas adversidades no caminho, é preciso ter muito foco, muita persistência.

* Estudante da Disciplina: Fontes, Entrevista e Tratamento de Dados
Professor: Marcell Bocchese
Trabalho: Entrevista Pingue-Pongue
Semestre: 2023/4

Foto: Isadora Neumann (Agência RBS)

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