O sete de Junho é o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. A liberdade de imprensa é o direito dos profissionais da mídia de fazer circular livremente as informações – um requisito para a democracia -, além de permitir ao cidadão o acesso a diversas fontes de dados, seja notícias, livros, jornais e entre outros meios de comunicação, sem ter a interferência do Estado.

Não é de hoje que jornalistas, escritores e demais figuras públicas que trabalham como porta voz da sociedade, sofrem com perseguições e conflitos por conta da censura. Esta pode acontecer em casos específicos, principalmente dentro da política, em uma crítica direta ou indiretamente ao governo e outros casos. De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ -, o ano de 2020 foi quando mais aconteceram perseguições aos jornalistas brasileiros. No Relatório de 2020 – Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, contabiliza-se 428 episódios de violência aos jornalistas, sendo possível notar um crescimento de 105,77% em relação a 2019.

Atualmente, essa agressão e violação aos jornalistas, ainda é recorrente. Um caso recente é o da jornalista Delis Ortiz, que foi agredida por um segurança em uma coletiva com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Delis levou um soco no peito durante a confusão e outro jornalista, do jornal “O Globo”, também foi agredido. “Foi uma pancadaria só. Teve um colega que teve o terno rasgado. Puxaram pela gola do terno assim e levaram até lá fora. Queriam botar no chão. Se não fosse um monte de fotógrafos em cima registrando e todo mundo gritando ‘para com isso!’, não sei o que mais poderia ter acontecido. Foi constrangedor”, disse Ortiz em seu depoimento. 

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Grande Dourados (Sinjorgran) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), também se manifestaram sobre outro caso de agressão e perseguição ao jornalista Sandro de Almeida Araújo. O jornalista, de 46 anos, foi perseguido e agredido por quatro policiais militares no momento em que chegava em casa. A agressão foi filmada por câmeras de segurança, o Araújo relatou que foi enforcado e agredido pelos quatro homens, que não se identificaram como policiais e não apresentaram mandados de busca ou intimação. O jornalista acredita que foi agredido por ter coberto a segurança pública em Nova Andradina. “Eu costumo cobrir a parte de segurança pública na cidade, informar sobre falhas. Alguns policiais pediam para eu revelar minhas fontes, mas não revelava. Acredito que tenha sido agredido pela minha atuação”, afirma. Na nota, os Sindicatos e a FENAJ repudiam a situação: “É inadmissível e alarmante que um profissional da imprensa seja alvo de agressões e tortura enquanto exerce seu trabalho de informar a sociedade. O ataque a um jornalista representa um ataque direto à liberdade de imprensa, um dos pilares fundamentais da democracia.”

O jornalista, professor e dramaturgo brasileiro, Vladimir Herzog, foi morto por conta das violações de direitos humanos cometidas pelo regime militar no Brasil, sendo reconhecido em todo o mundo como símbolo da luta contra a ditadura militar e a favor da democracia. Ele iniciou sua carreira como jornalista no ano de 1958, atuando como estagiário do jornal “O Estado de S. Paulo”. E a partir disso, sua vida profissional começou a crescer, trabalhando também no Serviço Brasileiro da BBC, como professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. E foi em 1975, que Vladimir recebeu o convite do Secretário de Cultura de São Paulo, para dirigir a TV Cultura. Consequentemente, Vladimir se colocou em perigo ao expressar suas críticas à ditadura militar que dominava o Brasil. Herzog foi convocado para prestar depoimento sobre suas contribuições ao Partido Comunista Brasileiro – PCB -, se apresentando voluntariamente. Assim que chegou no quartel do exército brasileiro, Vladimir foi encapuzado, amarrado a uma cadeira, sufocado com amoníaco e sofreu espancamentos e choques elétricos até a morte. O jornalista deixou o seu legado, mostrando para o mundo os horrores da Ditadura Militar brasileira.

A comemoração no dia 7 de junho no Brasil se deve a um manifesto contra a censura da Ditadura Militar que foi divulgado e assinado por quase três mil jornalistas, em 1977. Mas em relação ao mundo afora, a data é comemorada no dia 3 de maio. O jornal “O Globo” – de 1993 -, destacou a seguinte frase: “A Assembleia Geral da ONU proclamou 3 de maio como Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em uma ação para conscientizar o mundo para a luta a favor do simples direito de informar – sistematicamente violado mundo afora, seja através de violência, intimidação, censura ou desinformação deliberada. Muito mudou desde então, principalmente com a ascensão irrefreável das mídias digitais. Mas fazer jornalismo com liberdade, ainda é um desafio um tanto difícil.” 

O Dia Nacional da Liberdade de Imprensa traz celebração, memórias e lutas de todos os profissionais da comunicação e principalmente dos jornalistas que sofreram e ainda sofrem censura, perseguição e violência. É um dia para ser respeitado, valorizado e lembrado. Pois, para se construir uma sociedade justa é necessário aprender e entender o passado e não revivê-lo.

“A imprensa livre é o espelho intelectual no qual o povo se vê, e a visão de si mesmo é a primeira condição da sabedoria. A censura pune a liberdade como se fosse um abuso. Essa é a melhor razão para se publicar nos lugares onde se pensa livre.”

Karl Marx (“Gazeta Renana” e “O Capital”)

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