É impossível crescer infinitamente em um planeta finito”, afirma palestrante nas comemorações dos 30 anos do curso de Jornalismo da UCS

Em comemoração aos 30 anos do curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul, a jornalista Eliane Brum abrilhantou a noite de quinta-feira, 18 de agosto, com uma das palestras mais importantes da trajetória do curso, pela atualidade e urgência do tema: “Jornalismo em tempos de guerra climática”.  Há mais de cinco anos, Eliane Brum reside em Altamira, no estado do Pará, epicentro da destruição da floresta Amazônica. Estando em um dos centros desse combate, a jornalista trouxe informações contundentes sobre uma realidade que, como ela discorre, muitos preferem ignorar, mas que configura uns dos períodos mais cruciais da história da humanidade. 

CONTEXTO

Nos primeiros momentos da palestra, Eliane Brum explicou o porquê de afirmar que o planeta se encontra em guerra climática para, em seguida, relacionar as transformações do fazer jornalístico em um cenário em que a verdade “tornou-se uma opção pessoal”. Por fim,  a jornalista refletiu sobre onde e como trabalhar nesse contexto. 

Para Eliane, o colapso ambiental torna inevitável que esta e as próximas gerações de jornalistas sejam os responsáveis por contar as histórias de um tempo que se torna primordial para a vida. A utilização do verbo ‘tornar’ explicita que esse cenário foi criado, construído: “O mundo torna-se cada vez mais hostil para a espécie que o destrói!”, destaca Eliane Brum. 

A jornalista conclamou ainda a observar que os beneficiados com a destruição ambiental são uma pequena parcela que, por escolha, promove de maneira cega e egoísta o seu esgotamento. Para ela, o papel do jornalista é o de se colocar ao lado das minorias desassistidas por esse sistema autofágico, escolha que tem marcado o seu fazer jornalístico nas últimas décadas, aproximando-se, escutando e fazendo com que se ouça a voz dos marginalizados pela sociedade.  

REFUGIADOS CLIMÁTICOS

A palestrante relatou, ainda, que a guerra climática caracteriza um fenômeno que não ocorre isoladamente, ela é atrelada a diversas problemáticas de cunho social, cenário percebido por Eliane Brum em suas diversas coberturas. A jornalista revela que ela mesma demorou a perceber que, em muitas de suas reportagens, estava  encontrando “refugiados climáticos”, indivíduos que são vítimas de um corpo social em que, talvez, nunca estiveram inseridos. Essas populações experienciam as consequências dos desequilíbrios ambientais ou das medidas equivocadas de remoção em nome de projetos desenvolvimentistas, como as que foram deflagradas a partir de 2011 em Belo Monte, próxima à Altamira, para a construção da usina hidrelétrica, retirando de dezenas de famílias as terras onde estavam acostumados a retirar seu sustento.

AMEAÇA DE EXTINÇÃO

Assim, Eliane Brum expõe que a premissa de que “estamos todos no mesmo barco” é errônea. Contudo, frente a uma urgência como essa, ainda é difícil para uma parcela da população compreender essa assustadora realidade, mas essa não é uma escolha para o profissional da notícia. “Os jornalistas precisam compreender o mundo em que vivem, uma vez que são e serão por um longo período correspondentes dessa guerra”, ressalta. 

Eliane alerta que essa geração que fará a cobertura desse conflito foi a mesma que notou que o homem está em desconexão com seu instinto básico, de sobrevivência, isto é, de cuidar do planeta onde vive e dos mais jovens da espécie. Eliane Brum, então, utiliza uma fala da ativista sueca Greta Thunberg: “ A casa está em chamas”, logo a reação óbvia seria reagir, mas isso não é o acontece no contexto atual”. 

DISTORÇÃO DA REALIDADE

A jornalista lamenta que as sociedades individualistas que caracterizam o tempo presente acreditam apenas no que convém. Assim, avalia que resgatar a verdade tornou-se uma missão dificílima, em um mundo em que “a linguagem foi destruída”. 

Segundo a palestrante, o que ocorreu foi a destruição de uma base comum, provocando a interdição do debate e consequentemente da comunicação. “Os fatos já não apresentam um valor reconhecido, isso porque a veracidade de algo tornou-se uma escolha de cada indivíduo”, destaca. 

Por fim, Eliane Brum conclama a retomar o diálogo, mas, para que isso ocorra, ela entende que é necessário que alguns consensos sejam resgatados, no sentido de reconhecer a verdade em seu significado natural, atrelado a fatos (matéria-prima do fazer jornalístico). 

Acompanhe a transmissão completa do evento:


Momento solene para a comunidade acadêmica 

O evento que proporcionou a fala notável de Eliane Brum também contou as presenças da Pró-Reitora da universidade, Flávia Fernanda Costa; do diretor da área das Ciências Sociais, Marcell Bocchese, e do coordenador do curso de Jornalismo, Jacob Hoffmann. 

A noite teve início com confraternização e coquetel oferecido pela universidade. Posteriormente, o público presente, incluindo egressos de diferentes épocas do curso, passou à sala destinada à conferência, no bloco J, para um momento solene antes da palestra. 

Ao agradecer todos os que fizeram parte dessa trajetória, Hoffmann fez a entrega de certificados que simbolizam os esforços e conhecimentos compartilhados nessa  jornada pelos professores da atualidade e outros que já passaram pelo curso. 

Flávia Costa destacou que o objeto de trabalho do jornalista é a informação e a ética: “que em tempos de crise, sigamos confiando que estamos no caminho certo”, disse. 

A organização do evento contou com o trabalho dos estagiários da Agência Experimental de Comunicação (AEC), em suas diferentes áreas de formação.

Foto de capa: Laryane Barboza

Autora: Júlia Finger

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