Especialistas e leitores abordam como o avanço tecnológico afeta positivamente e negativamente a leitura 

Por Augusto Arcari e Cristian Bergamin

No sábado, 12 de outubro, além do feriado de Nossa Senhora de Aparecida e do dia das crianças, é celebrado o Dia Nacional da Leitura, data instituída pela Lei nº 11.899/09, sancionada pelo então senador Cristovam Buarque. A lei também prevê a Semana Nacional da Leitura e da Literatura, que promove eventos e feiras do livro em todo o país.

Nos últimos anos, a crescente presença das redes sociais e o avanço da tecnologia têm transformado os hábitos de leitura, conforme aponta o Professor Doutor Marcell Bocchese, jornalista, doutorando em letras e coordenador do curso de jornalismo da Universidade de Caxias do Sul (UCS). “Impactam bastante no hábito de leitura, principalmente porque se tornaram protagonistas nas rotinas das pessoas. Contudo, é importante destacar que a tecnologia, ao mesmo tempo, oferece novas formas de acessar e divulgar obras literárias”, destaca, explicando que apesar do impacto causado no cotidiano, a era digital democratizou o acesso à literatura. Bocchese detalha os vastos materiais que se tornam acessíveis graças ao advento da internet. “Hoje, temos muito mais facilidade para pesquisa bibliográfica e curadoria de leitura nas redes, além do fácil acesso a livros que antes eram limitados a espaços como bibliotecas”, afirma. Ele também pondera que, embora as redes sociais ampliem o acesso à leitura, elas competem diretamente com o tempo que poderia ser dedicado a leituras mais profundas.

Marcell Bocchese, doutor em letras e coordenador do curso de jornalismo da Universidade de Caxias do Sul

Para  Eliandro Rocha, escritor e patrono da Feira do Livro de Bento Gonçalves em 2024, as tecnologias têm um papel positivo, especialmente na divulgação de obras literárias. “Em tempos de redes sociais, o ato de ler é solitário, e se torna um desafio, mas as editoras, livrarias e escritores têm aproveitado essas plataformas para promover livros. O essencial é garantir que essa leitura seja realizada com profundidade, promovendo o pensamento crítico”, explica Rocha.

Eliandro Rocha, patrono da Feira do Livro de Bento Gonçalves

Eventos extraordinários, como a Pandemia de COVID-19, foram cruciais para a inserção da tecnologia nos hábitos de leitura. Uma pesquisa desenvolvida pela Nielsen BookData para a Câmara Brasileira do Livro e para o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, em 2022, revela que a venda de e-books em 2020 cresceu em 81% com relação aos números de 2019. Dados que demonstram que em meio a impossibilidade de ir até as livrarias, a leitura teve de se adaptar, e ferramentas digitais, como os e-books, consolidaram seu espaço. A mesma pesquisa, também revela que as editoras, através de serviços de assinatura, tiveram um aumento de 71,7% nos lucros em 2020. 

Outra pesquisa, também da Nielsen, revela que as editoras exclusivamente virtuais foram os canais com maior participação no faturamento das editoras em 2022, com 35.2%. Até 2021, as livrarias físicas eram os principais meios de venda, com 30% do faturamento das editoras. Plataformas digitais de leitura, como a Amazon Kindle e a Google Books, também consolidaram seu espaço na leitura. E são novas possibilidades para os leitores, fornecendo livros de maneira simples e acessível.

De acordo com a Câmara Brasileira do Livro (CBL), as vendas de livros físicos cresceram em 2021, enquanto as vendas de e-books mantiveram um crescimento constante. Isso sugere que, embora o digital tenha ganho espaço durante a pandemia, o livro físico ainda tem um forte apelo, especialmente entre aqueles que buscam uma experiência de leitura mais tangível.

É neste contexto de inserção tecnológica no período pós pandêmico que Claudia Velho, fotógrafa e livreira da Editora da UCS, presente na 40ª Feira do Livro de Caxias do Sul, relata que o retorno ao formato físico está ganhando força após o auge dos e-books durante o isolamento social. “Percebo um aumento na procura por livros físicos agora, depois de tanto tempo consumindo livros digitais. Muitas pessoas parecem estar cansadas de ler em telas e procuram o conforto do livro impresso”, comenta Claudia.

Entrevista na íntegra:

O Dia Nacional da Leitura e a Semana Nacional da Leitura e da Literatura reforçam a importância da promoção da leitura e do pensamento crítico, especialmente em tempos de mudanças rápidas nas formas de consumo de conteúdo. As feiras de livro realizadas pelo Brasil nesse período buscam manter viva essa prática essencial para o desenvolvimento intelectual da sociedade em um período pós pandemia.

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