Presente em diferentes campos de estudo, o sentimento nostálgico está na vida de todos, tendo lados bons e ruins

Por Isabella Jacobs Tonelli

“Sentimento ligeiro de tristeza sentido por alguém, pela lembrança de eventos ou experiências vividas no passado; saudades ou tristeza por algo ou alguém que já não existe mais ou que já não possuímos mais.”

É esta a definição referente à palavra “nostalgia”, originária de duas palavras gregas, nostos, que significa “voltar à casa” e algia, que diz respeito ao sentimento de anseio. É uma saudade de algo que não existe mais, acompanhada por sentimentos de conforto e idealização.

Da filosofia para a psicologia, a nostalgia está presente em diversos campos de estudo e se prova cada vez mais um sentimento poderoso, sendo capaz de aliviar dores e provocar alívios emocionais.

Para o filósofo franco-argelino Albert Camus, a nostalgia está diretamente ligada à irracionalidade humana, que por tamanha a sua complexidade, se torna praticamente impossível chegar à compreensão de sua essência, mas, ainda assim, ele afirma que “o pensamento de um homem é, antes de mais nada, sua nostalgia.” Segundo o filósofo, como parte da humanidade que está dentro de cada pessoa, faz parte sentir falta do passado.

A Indústria Cultural e a Indústria Publicitária são exemplos de setores presentes na mídia adeptas a utilizar das memórias afetivas do público para a realização de projetos culturais, como filmes, séries, comerciais, músicas e videogames. De acordo com o Doutor em Comunicação e Informação e Mestre em Ciências Sociais, Ronei Teodoro da Silva, essa é uma tática utilizada para assegurar que os projetos lançados pelas produtoras tenham um bom desempenho financeiro.

“Ao conectar-se a uma propriedade já estabelecida, a nostalgia pode certamente ser um caminho para emoções construídas na familiaridade. Então, em termos de produção, ajuda a criar atalhos emocionais para uma conexão significativa com o público, diminuindo o risco que envolve o lançamento de algo totalmente novo.
[…] Principalmente numa área com tanta competição pela atenção do público e, por consequência, com um alto risco de retorno do investimento, a nostalgia pode ser uma ferramenta poderosa para chamar atenção, despertar a curiosidade e criar vínculos.”

A campanha da Volkswagen, lançada em 2023 em celebração pelos 70 anos da montadora no Brasil, é um exemplo de como a nostalgia pode se manifestar na Indústria Publicitária, segundo Ronei. No comercial, a cantora Elis Regina, falecida em 1982, dirige uma Kombi ao lado de sua filha, Maria Rita, que está ao volante de uma versão moderna do mesmo carro, ambas cantando a música “Como Nossos Pais”, de Belchior. Para que o encontro fosse possível, foram utilizadas ferramentas de Inteligência Artificial.

Campanha em comemoração pelos 70 anos da Volkswagen no Brasil.

Relembrar coisas boas faz bem:

Em um estudo realizado pela Academia Chinesa de Ciências e da Universidade de Liaoning, foi constatado que a nostalgia pode causar um efeito analgésico.

Com estímulo de dor a partir do calor, os 34 participantes do estudo foram escaneados com uma máquina de ressonância magnética enquanto viam imagens que os deixavam nostálgicos, como desenhos animados, doces infantis, videogames, etc.

Concluiu-se que enquanto alguns participantes possuíam memórias afetivas às imagens apresentadas, eles também relataram índices menores de dor. Outro estudo, publicado na revista Frontiers in Psychology, mostrou que a nostalgia era capaz de aliviar dores crônicas de participantes, através de testes semelhantes.

A nostalgia de cada um:

Além disso, a nostalgia pode estar ligada à vida a partir de diversas coisas, como perfumes, roupas, sons, etc., dada que se trata de uma experiência expressamente pessoal. Para a comerciante Marta Sartor, de 63 anos, muitas de suas memórias afetivas são relacionadas a um doce típico brasileiro:

“A maria-mole. Não posso ver nem nos mercados, que tenho que comprar. É uma coisa que me volta à infância e eu adoro todas as cores da maria-mole. Pode ser branca, pode ser rosa, cor de creme. Me volta muito aos tempos de infância.”
Marta Sartor, de 63 anos. Foto: Isabella Tonelli

Já o pesquisador de 28 anos e graduado em Filosofia, Luan Moraes, revive uma nostalgia diariamente, relacionada à sua família, com lembranças que remontam o tempo de quando era criança:

“Todos os dias, eu tenho uma memória na hora de realizar uma refeição, porque eu lembro daquele carinho familiar, da minha mãe, daquele carinho num todo e, por isso, sempre relaciono a memória à lembrança de pessoas queridas e muito especiais para mim.”
Luan Moraes, de 28 anos. Foto: Isabella Tonelli

Ainda, há quem tenha memórias afetivas ligadas à música, como é o caso do jardineiro de 70 anos, Roberto Toscan. Com variadas referências de canções que marcaram época, ele cita alguns títulos que mais o deixam nostálgico:

“Eu gosto muito das músicas antigas da década de 1970, mais as MPB’s, mas as sertanejas são muito boas também. Hoje em dia não fazem mais músicas assim. Me fazem recordar um monte de coisas da minha época, as coisas que vêm lá do passado, acho que se não fosse por elas eu nem me lembraria [risos].”

Roberto Toscan, de 70 anos. Foto: Isabella Tonelli

“Têm os Super Quentes, Golden Boys, The Fevers… são as melhores músicas que saíram da década de 1970, então todas essas músicas me fazem recordar muitas coisas. Tem a música ‘Lágrimas Nos Olhos’, por exemplo, do José Roberto, acho que todo mundo mais novo deveria ouvir, são do tempo da vitrola, hoje na rádio não tocam mais essas músicas.”
Lançada em 1973, “Lágrimas nos Olhos” é uma das canções mais famosas do cantor baiano José Roberto.

Memórias afetivas podem estar relacionadas até mesmo nas coisas mais inusitadas. O estudante de 20 anos, Agnaldo Borges de Souza, comenta sobre a nostalgia que sente ao recordar do aroma de uma pomada específica, por exemplo.

“Para mim está nos cheiros e aromas. DVD’s são coisas também que me dão muita nostalgia, além dos filmes. Até mesmo lugares, como a rua da minha escola, pois sempre que passo por lá, tenho lembranças muito boas. Além da pomada Bepantol, que é algo bem específico, né? Mas o cheiro dessa pomada me faz lembrar de muitas coisas. No geral, é um sentimento muito bom.”

Agnaldo de Souza, de 20 anos. Foto: Isabella Tonelli

Em contrapartida, romantizar demais o passado com pensamentos frequentes pode se tornar um problema a partir do momento que mexe demais com o psicológico, tornando complicada a aceitação do presente. Pensamentos do tipo: “Como o passado era bom!” e “Na minha época era bem melhor!” podem prejudicar a saúde mental, se deixarem a pessoa com uma postura melancólica, dificultando a aceitação de mudanças.

O que a Psicologia diz sobre a nostalgia:

Segundo a psicóloga Cláudia Rigon, é preciso reconhecer quando a nostalgia começa a fazer mal para o indivíduo, podendo chegar ao ponto de ele necessitar de apoio psicológico em alguns casos.

“Ela pode adquirir formas mais depressivas. […] Eventualmente, pessoas muito nostálgicas, que adquirem formas mais melancólicas, precisam de atendimento e tratamento, como a psicoterapia ou o uso de medicamentos, porque senão, elas têm muita dificuldade em renunciar às memórias do passado.”

Confira o relato completo no vídeo abaixo:

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