Inauguração da travessia provisória construída a partir de iniciativa de empresários e comunidade contou com homenagens ao povo gaúcho e às etnias italiana e alemã, representando a herança cultural das duas cidades

Por Marina da Silva Tusset

No dia em que a população gaúcha celebra a Revolução Farroupilha, os moradores de Caxias do Sul e Nova Petrópolis, na Serra, ganharam um motivo a mais para comemorar com a inauguração da Ponte da Cooperação, uma travessia provisória que simboliza esperança e união entre os municípios. A estrutura reconecta os dois municípios após 128 dias de interdição: a antiga ponte, localizada no km 174 da BR-116, foi fechada em 12 de maio, após um pilar ser comprometido em decorrência das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio.

A nova estrutura, construída em 35 dias, está localizada entre o distrito caxiense de Vila Cristina e a localidade de São José do Caí, em Nova Petrópolis. Quem quiser acessar a nova ponte, partindo de Caxias do Sul, deve seguir 1,2 quilômetro em uma estrada à esquerda a partir do ponto de interdição da BR-116. Após cruzar a ponte, o motorista chega a São José do Caí, a cerca de 700 metros do lado nova-petropolitano da rodovia federal.

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Ponte da Cooperação | Foto: Marina Tusset

A Ponte da Cooperação cria uma rota alternativa para acessar os municípios enquanto a construção da travessia definitiva, cuja antiga estrutura foi completamente demolida, não é finalizada. De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a previsão é que os trabalhos sejam concluídos em dezembro deste ano, um prazo que setores como turismo, agricultura, saúde, educação, comércio, além da população que transita diariamente entre as duas cidades, não podem esperar.

A nova estrutura foi construída pela iniciativa ReConstruíndo Conexões, encabeçada pelo empresário Clóvis Schumann e apoiada por outros empresários, além de membros das comunidades de Caxias do Sul e Nova Petrópolis. Por meio de doações feitas para uma chave Pix, foi possível angariar os fundos necessários para custear a ponte provisória. Com um valor total final de R$ 1,85 milhões, o projeto encurtou em 14,6 quilômetros o caminho alternativo para quem vai de Nova Petrópolis a Caxias, que até o momento era realizado por meio da Ponte do Bananal, em Vale Real.

População visita a nova ponte | Foto: Marina Tusset

O evento foi marcado pelo espírito de cooperação da iniciativa e pela celebração das culturas caxiense e nova-petropolitana. Do lado da Região das Hortênsias, uma homenagem aos 200 anos da imigração alemã; do lado da Região da Uva e Vinho, uma celebração aos 150 anos da imigração italiana. Membros das duas comunidades, vestidos com trajes típicos das suas respectivas culturas, protagonizaram o ato de abertura oficial da ponte provisória.

Descerramento da faixa de inauguração da Ponte da Cooperação, realizada por representantes das culturas alemã e italiana | Foto: Marina Tusset

Vanderlei Scheider, 49 anos, representou a figura do gaúcho e foi o primeiro a cruzar a ponte após a inauguração oficial, carregando a bandeira do Estado. Morador da localidade de Linha Temerária, em Nova Petrópolis, Vanderlei conta sobre o sentimento de ter sido escolhido para o momento simbólico:

“Para mim, a emoção é muito forte. Faz tanto tempo que a gente está esperando por isso. Estou muito agradecido e contente”.

Vanderlei foi o primeiro a cruzar a ponte recém inaugurada, montado a cavalo e pilchado | Foto: Marina Tusset

Para Fabiana Schildt Finn, 49 anos, a Ponte da Cooperação significa alívio, alegria, esperança e motivação. Moradora de São José do Caí, ela e o marido, agricultor, não só ficaram impossibilitados de atravessar o Rio Caí para vender sua produção, como também perderam toda a safra de figo e goiaba com as chuvas.

“Toda a situação, da enchente, é impactante. Mas ficar sem a ponte é ainda pior”, pontua.

Fabiana tem terras de plantação em São José do Caí e na Linha Sebatopol (Caxias do Sul) | Foto: Marina Tusset

Clóvis Schumann, empresário e idealizador da iniciativa ReConstruindo Conexões, relembrou a importância econômica da conexão entre os dois municípios.

Empresário afirma que busca devolver às pessoas a liberdade de transitar entre os municípios | Foto: Luca Roth

O empresário pontua que, com o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, inoperante devido aos estragos causados pela enchente, o turista tem chegado ao Rio Grande do Sul por meio do aeroporto caxiense Hugo Cantegiani. Ele destaca a relevância que o turismo tem para as Hortênsias e para os Vinhedos, bem como a importância de haver uma conexão entre as as duas regiões para que o visitante possa pousar em Caxias e movimentar a economia em Gramado, por exemplo.

“Convidamos os turistas para voltar novamente à nossa região. Tomar um café colonial, ir à uma galeteria, uma churrascaria, pernoitar e prestigiar os hotéis da nossa região”, convoca Schumann.

Para o empresário, torna-se inevitável relembrar a sequência de crises que ambas regiões enfrentam desde 2020. Por dois anos seguidos, devido à pandemia de Covid-19, importantes setores da economia, em especial o próprio turismo, foram praticamente fechados por completo em razão das restrições sanitárias. Em seguida, em 2023, num momento crucial de retomada, fortes chuvas atingiram a Serra Gaúcha e causaram deslizamentos de terra ao longo da BR-116, justamente a rodovia que conecta Nova Petrópolis e Caxias do Sul. Dentre os estragos, o principal deles foi a queda de uma barreira no km 181, cuja obra de recuperação está em andamento há mais de um ano. O trânsito no local segue em sistema de pare e siga, outra dificuldade que acaba afastando o turista da região. Já neste ano, a cheia do Rio Caí em maio comprometeu a antiga ponte que fazia a ligação entre os dois municípios.

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Esperança de retomada

Com a inauguração da Ponte da Cooperação, as expectativas de recuperação econômica e aumento no fluxo turístico na região têm ganhado força. Além disso, as recorrentes interrupções da BR-116 na região já haviam causado um impacto significativo no turismo e na economia local. Com a nova rota, afirma a secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Nova Petrópolis, Mayara Reis, há um sentimento de otimismo entre empresários e a Prefeitura de Nova Petrópolis, município que acabou sendo mais afetado pela interdição da ponte original:

“Desde o ano passado, com a primeira interrupção na BR-116, já sentimos uma diferença muito grande na visitação e na economia de forma geral. A Ponte da Cooperação traz uma expectativa e uma motivação a todo o trade e município, de uma retomada no fluxo turístico da região que é tão importante para nós, assim como reflexos para a economia de uma forma geral, ainda mais neste período de final de ano.”

Entretanto, os números exatos do real prejuízo da falta da conexão entre os dois municípios ainda está em fase de levantamento.

“Estamos trabalhando e validando junto à Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Inclusive, a entidade esteve à frente na arrecadação de valores e de trabalho entre entidades, voluntários e empresários para a construção da ponte, justamente para fazermos um levantamento de fluxo, deste período de abertura”, completa Mayara.

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