Egressa da primeira turma de Jornalismo da UCS tem passagens pelo jornalismo local e internacional, além da atuação como correspondente e mestre de cerimônia

Por Carlos Carissimi, Carlos Eduardo Born e Rodolfo Pizzolato Grandi – Turma de Jornalismo Especializado 2022/2

A jornalista Flavia Bellini, egressa da primeira turma de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul (UCS), teve a sua primeira experiência na área atuando em rádio, em 1988, quando tinha 17 anos de idade. Há mais de três décadas no ramo da Comunicação, trabalhou em televisão por diversos anos, tanto no Sul do Brasil, como em Portugal. Em território lusitano, se tornou a primeira mulher brasileira a apresentar um telejornal no país. 

Atualmente, Flavia trabalha como apresentadora e mediadora de eventos presenciais e digitais, e realiza entrevistas e locuções em vídeos institucionais. Em sua trajetória, já conduziu mais de 500 eventos pelo Brasil como mestre de cerimônia.  Respondendo a cinco questões, Flavia faz um panorama desses 30 anos de jornalismo e de reinvenção profissional.

De que maneira teve início a sua trajetória no Jornalismo? 

Eu estava no “terceirão” do Colégio La Salle Carmo e queria já começar a trabalhar, então, eu consegui um emprego na Rádio Caxias, no período da tarde, como roteirista comercial. Nós tínhamos as cartucheiras, uma máquina de digitar números onde saíam as “tripinhas” de papel e, na sequência, aquele roteiro ia para o operador. Eu atuava nos roteiros. Chegou o momento em que precisávamos de uma voz feminina para gravar comerciais, e a Biri, que era a única da Rádio Studio, não estava. O Edson Corrêa, que é o atual professor de Fotojornalismo da UCS, me pediu se eu poderia, então gravei e gostaram. Passado um tempo, me convidaram para ser a locutora das madrugadas na Studio. Aceitei, fui, e comecei a trabalhar na rádio FM. Posteriormente, um locutor do dia foi embora para uma outra emissora e eu assumi o seu posto. Mais tarde, surgiu um convite para apresentar o Jornal do Almoço, na RBS TV. Pedi demissão, fui, mas não curti muito. Eu tinha apenas 18 anos, não tinha faculdade de Jornalismo e não queria ir embora de Caxias na época. Fiquei apenas oito meses e voltei para a rádio, que sempre foi a minha grande paixão. Retornando para o Sistema Trídio, passei por várias rádios. Eu fui setorista na Rádio Caxias, na Câmara e na prefeitura. E um período marcante do rádio para mim foi na 102 FM. Eu acabava sendo até uma psicóloga dos ouvintes: ligavam, pediam música, era uma relação bem bacana.

E a entrada na Universidade? Como se deu e quais caminhos você tomou?

Quando abriu o curso de Jornalismo na UCS, em 1992, fiz vestibular, passei e entrei. No último ano da faculdade, eu resolvi que queria fazer intercâmbio. No início, a ideia era que fosse na Espanha, mas as ligações da UCS com a Escola Superior de Comunicação Social, em Benfica, eram mais estreitas, e eu acabei sendo a primeira aluna da UCS a fazer um intercâmbio. Isso foi em 1995. Fui fazer as quatro últimas cadeiras de Jornalismo. 

Como foi a sua experiência em Portugal? 

No início, morei em uma residência estudantil. Depois, fui residir com umas colegas portuguesas e consegui um estágio na Sociedade Independente de Comunicação (SIC), que, na época, era como se fosse a Globo no Brasil. Nesse estágio, comecei na edição de imagens. Eu fui para a câmera, fui para o áudio, fui para o grafismo e, depois, fui promovida para a produção de programas. Já estava com o contrato de trabalho e abriu, em Lisboa, o Canal de Notícias de Lisboa (CNL), que estava admitindo jornalistas que pudessem dar a cara, dar a voz, não importava de que país fossem. Eu fui selecionada e passei. Lá, então, fui a primeira mulher brasileira a apresentar um telejornal em Portugal. Havia preconceito, havia inveja dos colegas da faculdade, porque: “Como é que tu vens aqui e consegue coisas que a gente nunca conseguiu?”. Enfim, também pelo fato de eu já ter um currículo, né? 

Fiquei em Portugal por 10 anos. O CNL foi extinto, e aí, como eu já tinha trabalhado na SIC, eles abriram a SIC Notícias. Na SIC Notícias, eu tinha um programa chamado “Mar Português”, com Pedro Amorim, e nós contávamos histórias de portugueses e brasileiros espalhados pelo mundo. Fomos a Paris e fizemos uma transmissão debaixo de chuva em frente ao Hotel Deauville. A gente foi a Newark, que é ao lado de Nova York, fazer os festejos de Portugal. Eu vim ao Brasil na comitiva presidencial do presidente português Jorge Sampaio, nas comemorações dos 500 anos, em Porto Seguro. Foi uma experiência fantástica. Nesse tempo que eu estive lá, também conquistei um espaço na Rádio Gaúcha. Fui correspondente internacional. Acompanhei, também, visitas presidenciais. Eu auxiliava na produção com o pessoal da Band. Tudo isso a SIC me proporcionou. No fim, passados 10 anos em Portugal, começou a bater a saudade e resolvi regressar. 

Quais as melhores lembranças da época da graduação? E a sensação em fazer parte da primeira turma de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul?

Destaco bastante, como eu sempre tive uma paixão pelo rádio e pela TV, as aulas da Cíntia Nara e da Cristiane Finger. Eu tinha uma facilidade porque eu já tinha atuado, né? Usávamos as máquinas de escrever… era uma época bem antiga. A gente era jovem, todos muito entusiasmados. Eu lembro das escadarias do Bloco H; lembro das manhãs geladas, em que, às vezes, a gente até levava pantufa e cobertor para se esquentar; levava chá; levava chimarrão. Foi sempre um compartilhamento de experiências. As máquinas de escrever, aquelas lembranças da edição de imagem antiga, com as fitas de U-Matic. Bastante lembranças e, hoje, eu tenho amigos muito especiais desde aquela época. A gente ainda mantém um contato bem próximo. A sensação em fazer parte da primeira turma de Jornalismo da UCS é bastante gratificante, né? Alguns colegas da turma ainda estão na área, mas muitos eu acho que foram para outros setores.

Como enxerga o profissional jornalista da atualidade?

É uma questão que tem sido bastante debatida hoje, da imparcialidade. A atuação do jornalista, de forma isenta na produção da notícia, da reportagem. Por vezes, não ouvem os dois lados da história. Alguns se posicionam sobre o fato, outros não se posicionam. Outros não deixam o ouvinte ou o telespectador falar nas entrevistas, querem chamar mais atenção. Também, a questão da omissão do fato, distorção do mesmo. Então, isso choca bastante. Parece que o Jornalismo está meio distorcido. 

Foto de capa: Acervo pessoal

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