Artista caxiense trabalha com graffiti há mais de 20 anos 

Gustavo Gomes é o autor do graffiti de 245 metros quadrados e 14 metros de altura que alegra a fachada do novo Instituto Hospitalar Veterinário da Universidade de Caxias do Sul (IHVET), com animais regionais interativos por meio da tecnologia. 

Fachada do Instituto Hospitalar Veterinário (IHVET)
Foto: Bruno Zulian

O artista caxiense é egresso do curso de Publicidade e Propaganda da UCS. Gustavo Gomes comenta que o aprendizado no curso facilitou em vários sentidos o desenvolvimento da arte do graffiti. “Sem dúvida, o curso me deu um grande potencial pra estar aprendendo a base e desenvolvendo várias coisas que eu sei até hoje”, enfatiza.

Gomes colore cidades em diversos países há mais de 22 anos com seu trabalho, como na Austrália, que recebeu o seu mural no Rose of Australia em Erskineville, em 2019. Ele também contribui com a comunidade local com diversos projetos. O Muros da Quebrada, que leva arte ao bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, bem como o mural no paredão da sede do Ministério Público Federal em Caxias do Sul, que faz parte do Projeto Signos da Cidade desenvolvido junto a Lei de Incentivo à Cultura, são exemplos.

* As grafias Graffiti, Grafíti e Grafite estão corretas na Língua Portuguesa. Contudo, Graffiti constitui um estrangeirismo, linguagem global, vindo da língua italiana. Grafíti seria a tradução desse termo para o português. Já o termo Grafite pode se referir à arte mas também, em primeira instância, refere-se ao mineral vindo do carbono. 

Mural de autoria de Gustavo Gomes na sede do Ministério Público Federal em Caxias do Sul.
Foto: Instagram Gustavo Gomes.

Conheça um pouco mais sobre o artista:

Como começou a tua jornada no graffiti

A minha jornada no grafite começou eu tinha onze anos de idade, juntamente com um dos primeiros grupos de graffiti aqui de Caxias do Sul (Ilegais Crew), a partir de um desenho que eu pedi pra um amigo do meu irmão mais velho. E ele fez esse desenho e a partir disso nunca mais parei.

Tu tens alguma aspiração ainda para alcançar dentro do graffiti?

Aspirações sim, a gente sempre tem várias. Na verdade, hoje em dia, a gente trabalha aí com gerenciamento de artistas, né? Então, a gente pratica também a curadoria. A gente consegue estar explorando, até pela própria experiência que a gente tem ao longo dos anos, de estar proporcionando pros outros artistas entender que não só a gente que tem que desenvolver o nosso próprio trabalho, mas que a gente ,dependendo do estilo, pode estar configurando e  proporcionando pros outros artistas. Então, isso é um uma aspiração muito interessante dentro do próprio movimento também.

Ter cursado Publicidade e Propaganda na UCS te ajudou de alguma forma na tua profissão? 

Eu, desde sempre, me motivei a estar estudando bastante, pesquisando bastante, além de uma formação. A Publicidade e Propaganda, sem dúvida, facilitou em vários sentidos. Hoje, meu trabalho, ele vem de uma referência de geometria sagrada, Fibonacci e bastante geométrica. Então, quando eu trabalhei em agência de publicidade,  que eu trabalhava na área de criação, isso foi, sem dúvida, uma forma que me deu um grande potencial pra estar aprendendo a base e desenvolvendo várias coisas que eu sei até hoje.

Como é o processo antes de começar efetivamente o graffiti

O processo basicamente é uma busca, né? Uma busca, uma pesquisa ou um desenvolvimento de imagens, para que depois a gente possa entregar a proposta que as pessoas acreditam; ou estar desenvolvendo a nossa própria arte.

Qual a tua maior inspiração na tua profissão? 

A minha maior inspiração hoje ela se baseia nas pessoas, no cotidiano, né? Na inspiração da natureza, nas formas da natureza e tudo isso contempla e nos faz ser.

Qual poder tu acredita que o graffiti tem socialmente hoje em dia? 

Sem dúvida, ele é uma ferramenta de diálogo, né? De inclusão, de socialização de várias frentes. É uma linguagem contundente em que invade diferentes públicos. Isso é muito importante. Além de ser uma ferramenta social onde as pessoas se apropriam e gostam da estética do que isso trabalha. Além de todo o movimento hip hop, do fator que está predominante dentro do graffiti.

O graffiti  é uma forma de comunicação. Como tu acreditas que essa “troca de ideias” funciona entre o artista, sua liberdade criativa e o público? 

O graffiti, sem dúvida, é uma forma de comunicação mas, mais que uma forma de comunicação, ele é uma manifestação social. Então, ele troca ideia entre o artista, a liberdade criativa e o público a partir do momento que a gente visita o ambiente e entende qual que é necessidade do cliente, a gente está trabalhando como artista. E essa liberdade criativa ela vem do fundamento das próprias pesquisas e bagagens que o artista tem a multidisciplinarizar ali dentro, conforme o público.

Como o graffiti ajuda a contar e a construir uma história? 

O graffiti faz parte da minha história. Então, ele é um crescimento pessoal, das pessoas que eu conheci, que eu tive a honra de viajar, os cinco continentes, setenta países quase e o graffiti sem dúvida faz parte dessa construção.

O teu trabalho recente, da fachada do Instituto Hospital Veterinário da UCS, tem uma função muito legal de interatividade e animação. Como surgiu essa ideia?

No Hospital Veterinário da UCS, especialmente no IHVET, a gente recebeu um convite de curadores, sendo eles desde o pessoal da equipe da arquitetura, diretores da área médica veterinária e também professores que fizeram parte dessa curadoria. Então, a partir disso, a gente começou a pesquisar bastante os animais da região, os animais silvestres  e logo assim que eu estava desenvolvendo eu notei nesse potencial que a gente tem, que algo que eu trago, que a relação do grafite familiar, onde não só um público X possa estar presente mas, que toda a família possa interagir com isso. 

O que esse conceito de graffiti com relação familiar exprime?

Quando eu me refiro ao conceito de graffiti com a relação familiar eu tenho uma lembrança muito grande de um meet off styles que eu participei na França. É um evento que acontece uma vez por mês num país do mundo e onde as famílias todas iam ver. Chamava-se Casa de La Musique em Perpignan, na França, no sul da França. E aquilo sempre me ateve no sentido em que, a nível de Brasil, as pessoas não frequentavam muito esses murais e, ao longo do tempo, a gente foi conseguindo tornar e ali, sem dúvida, é um exemplo disso, claro.

Pode contar um momento ou projeto mais marcante no graffiti

Eu sou um artista que não tenho um projeto marcante especificamente. Eu acredito que cada um tem a sua função. Eu pinto há 22 anos, então muita coisa já se passou nessa vivência, lembrando que a gente pinta toda semana de dois a três murais, então muita coisa acontece.

Tu tens alguma dica para público sobre criatividade e comunicação criativa?

Sem dúvida! Use de dentro pra fora. O movimento que vem de dentro para fora é algo que todo mundo entende como verdade e ele é claro. Saber expressar isso vai ser algo motivacional, no sentido que quando se faz uma aplicação, um branding, alguma coisa do tipo, as pessoas vão poder visualizar isso automaticamente. É quase que um sentimento externado. A gente sim, se baseia em teorias e tudo mais, mas, no fim, é um olhar clínico, o peso das coisas que faz com que as coisas realmente aconteçam e tenham um valor e façam ser realmente criativos.


Para  conhecer mais do trabalho de Gustavo Gomes, acompanhe o Instagram do artista @gomes_one

Foto de Capa: Instagram Gustavo Gomes

Autora: Júlia Finger

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