A ex-secretária da Cultura de Caxias do Sul, Luciane Lopes Perez conta, em uma breve entrevista, o impacto da pandemia da Covid-19 na cena cultural caxiense.

Luciane Lopes Perez é porto-alegrense e vive em Caxias do Sul há 30 anos. Formada em turismo pela Universidade de Caxias do Sul há 13 anos, a especialista em Gestão de Pessoas assumiu a Secretaria Municipal de Cultura de Caixas do Sul no início de abril de 2020.

Luciane trocou uma ideia com os alunos da disciplina Gestão de Mídias Sociais, dos cursos de Publicidade e Propaganda e contou um pouco os desafios de coordenar a cena cultural caxiense em meio a pandemia da Covid-19.

Luciane Lopes Perez

Você assumiu a Secretaria da Cultura de Caxias do Sul em meio a pandemia da Covid-19, qual foi o maior desafio?

O maior desafio foi readequar e ajustar todos os projetos que a Secretaria já tinha elaborado no planejamento do ano de 2020 para aquele novo momento que estávamos vivendo e criar soluções e ações para ajudar, de alguma forma, a classe artística que foi uma das mais afetadas durante a pandemia.

A pandemia mudou muitas rotinas, inclusive a rotina das pessoas que promovem a cultura e vivem por meio dela, seja na dança, no teatro, na música ou na arte. Você tinha contato direto com esses artistas. Na sua percepção, qual foi o maior impacto da pandemia na vida dessas pessoas?

A principal fonte de renda dessas pessoas é a arte, é a cultura. Então, no momento em que eles foram proibidos de executar o seu trabalho, uma série de problemas começaram a acontecer dentro de suas casas. As famílias não tinham mais renda, não tinham mais alimento e muito menos percepção clara de quando poderiam voltar a exercer a sua arte e seu trabalho. Esse foi um relato que eu recebia diariamente na Secretaria e nós tínhamos que, de alguma forma, estar apoiando-os e na forma que podíamos, nós apoiamos a classe. O segmento foi o primeiro a parar e o último a voltar ao trabalho, com isso tivemos um impacto social e econômico muito grande na vida desses artistas.

Alguns eventos aconteceram durante a sua gestão como a Feira do Livro, Semana Farroupilha e Parada Livre. Quais adaptações foram feitas para que isso fosse possível?

Sim, nós conseguimos realizar algumas atividades. A Parada Livre, a Semana Farroupilha e a Feira do Livro foram eventos que conseguimos realizar de forma híbrida. Nunca até então tinha sido feito no município de Caxias do Sul, na área da cultura, eventos nesse formato. A Semana Farroupilha não tinha como ter sido feita no Parque da Festa da Uva como acontecia normalmente, então nós contratamos um trio elétrico e passamos dois dias pelos bairros da cidade com apresentações artísticas de cantores locais divulgando a sua arte, gerando entretenimento e resgatando a tradição e a cultura gaúcha durante aquele período. A Parada Livre aconteceu no Centro de Cultura Ordovás, com um número reduzido de pessoas, cumprindo todo o distanciamento social e as regras sanitárias. Ele foi transmitido pelas redes sociais da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal e também da organização da Parada Livre. A Feira do Livro contou com 28 bancas e as apresentações artísticas e culturais, como as contações de histórias e os bate-papos com os escritores, aconteceram de forma virtual. Isso foi uma renovação para a Feira do Livro, foi a primeira feira realizada dessa forma e hoje, a Feira do Livro de 2021 também ocorre de forma híbrida. Foi um modelo de evento que, mesmo acontecendo em meio a uma pandemia, deu certo.

Ressalto também outras atividades que foram realizadas no ano de 2020 como a Semana do Hip Hop com grafiteiros locais, o Caxias em Movimento também de forma híbrida, a Orquestra Municipal com suas apresentações virtuais, assim como o Coro Municipal e a Cia de Dança. Além de toda a readequação dos museus para que as visitas virtuais fossem possíveis. Enfim, conseguimos realizar e readequar diversas atividades que foram muito importantes para a comunidade caxiense e para que a cena cultural do município não fosse perdida.

Devido a pandemia, você acha que o investimento em comunicação e publicidade aumentou?

Sim. Nós tivemos que montar uma equipe de comunicação muito mais forte, composta por jornalistas, relações públicas e publicitários. Sem eles eu não teria conseguido realizar todos os projetos de forma virtual. A verba de comunicação merece e precisa ser maior e isso é uma demanda que sempre reforçamos para todos os prefeitos e administradores. A comunicação é muito importante para a divulgação, fomento e consolidação de um governo. O governo no qual eu estive presente deu muita importância para a comunicação e me concedeu muitos profissionais qualificados para que eu pudesse estar executando o meu trabalho. Com esses profissionais, conseguimos fazer um trabalho assertivo, pois a equipe pensava junto, todo mundo sabia o que estava acontecendo e onde queríamos chegar, tanto que as páginas das redes sociais da Secretaria de Cultura no ano de 2020 teve um crescimento considerável em acessos e engajamento, principalmente de pessoas de fora da nossa cidade. As pessoas buscavam conteúdo e a equipe de comunicação que estava trabalhando comigo pensava e gerava conteúdo de qualidade, isso resultou em um “boom” de acessos e uma maior procura por nossas mídias.

Por fim, qual lição você leva da sua experiência?

Hoje eu posso dizer que foi o momento mais desafiador da minha carreira. Levo a lição de que precisamos ter uma equipe forte e unida e profissionais qualificados. Precisamos respeitar as pessoas e as dores de cada uma e ter objetivos concretos, metas claras, pois só assim conseguimos chegar no resultado que desejamos. Tive a oportunidade de estar mudando e renovando a Secretaria da Cultura. O fato de não estar sendo possível fazer eventos presenciais, possibilitou que eu pudesse organizar a Secretaria de outra forma. Consegui renovar ela internamente, formatar as redes sociais e dar uma cara diferente para a cultura de Caxias. Foi um momento desafiador e eu me orgulho muito desse período da minha carreira.

Entrevista realizada pelo grupo de alunos da disciplina Gestão de Mídias Sociais, segundo semestre de 2021.

Autores: Alessandra Lopes Perez, Aline Pacini, Clara Stedile, Heloísa Brustulin e Gabriel Gresele

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