Bruno Caldart venceu a Doença de Crohn e se tornou jornalista

No dicionário, o significado de vocação é ter habilidade, inclinação ou tendência para seguir determinada carreira. Nunca me imaginei trabalhando com Jornalismo, mas é uma paixão que acontece repentinamente. Muitos chegam a brincar dizendo que é “uma cachaça” pelo tanto que vicia. O encantamento pela profissão atingiu Bruno Caldart, de 30 anos, que nunca imaginou seguir esse caminho. Aliás, seus pensamentos durante o Ensino Médio eram cursar Arquitetura ou Administração.

Quando foi realizar vestibular, Caldart listou seus interesses e, apesar de estar focado na sua saúde, percebeu que – mesmo de forma intencional – o Jornalismo já tinha lhe escolhido. “Tinha na minha cabeça que queria fazer faculdade, mas não defini o curso. Foi de uma hora pra outra, porque estava muito focado na minha saúde. Gostava de ler e escrever. Foi uma decisão rápida, mas que achei correta e não me arrependo”, recorda. 

Conversamos por telefone e deu para perceber ainda mais o carisma do Bruno. Entrou na Universidade de Caxias do Sul em 2009, driblou obstáculos e conseguiu crescer no seu meio de trabalho. Sua trajetória na faculdade se assemelha com a minha, muitas vezes realizou poucas disciplinas, mas sempre dedicou-se ao curso. 

A conversa com Caldart é daquelas prazerosas e que servem para tirar aprendizados. Mesmo sem nem imaginar ingressar na área do Esporte, soube adaptar-se à profissão e encarou novos desafios. Foi recompensado em 2015, quando entrou na Rádio Caxias como estagiário e a oportunidade apareceu justamente quando fez um trabalho de perfil para uma disciplina de Jornalismo Impresso, do professor Paulo Ribeiro.

 “Tava procurando estágio e eu precisava fazer um perfil. Sempre andava com vários currículos e escolhi fazer o trabalho sobre Alaor de Oliveira, que trabalhava na Rádio 1010. No fim da entrevista, ele me perguntou onde estava trabalhando e eu disse que estava procurando um estágio. Prontamente, Alaor perguntou se tinha currículo e entreguei para ele”, relembra, sorrindo. 

A trajetória de Bruno Caldart foi intensa e teve traços de um bom filme de vencedores. O jornalista descobriu a Doença de Crohn com 14 anos e viveu tempos sem o diagnóstico correto. Durante seu caminho na escola, encontrou dificuldades pelos sintomas da doença. Inclusive, chegou a realizar trabalhos finais e provas de conclusão do Ensino Médio no hospital. Passou por cirurgias e teve algumas internações. Em 2017, teve um agravamento no seu quadro clínico e os medicamentos não faziam efeito. A sugestão do seu médico foi o tratamento com células-tronco em São Paulo. “Era um tratamento experimental. Na minha segunda viagem soube que me enquadrava na lista de pacientes. Já sabia que teria que fazer o transplante. Aí veio a pior parte: o plano de saúde se recusou a cobrir e o governo também. Os custos eram de R$ 300 mil. Eu não podia esperar tanto. Minha prima teve a ideia de fazer uma Vakinha Online. Não levei fé no ínicio. Foi feita uma campanha com mídias locais e nacionais. Consegui com a ajuda de todos. Foi um processo doloroso mentalmente. Fiquei isolado por três meses com minha mãe, que só podia ficar 2h por dia ao meu lado. Longe do meu pai, irmã, amigos e colegas. Fisicamente fiquei bem, mas senti psicologicamente”, detalha.  

Vitória conquistada e rumo a mais um título. Após sua recuperação, Bruno Caldart voltou para sua rotina e conseguiu conquistar o tão sonhado diploma de Jornalismo. Foi um caminho longo, mas a conquista traz orgulho para seus familiares e amigos. “Minha formação demorou bastante. Entrei na UCS em 2009. Quando fiz o transplante, tranquei. Depois que voltei de São Paulo, decidi que precisava me formar. Fiz um esforço de tempo e financeiro. No meio dessa pandemia, consegui me dedicar ao meu TCC e me formei”, comemora. 

A história de Bruno Caldart poderia se tornar um livro ou até mesmo um filme, quem sabe. Daqueles que ele gosta de ler e assistir atentamente. Mesmo com as dificuldades do seu transplante, conseguiu extrair o lado positivo e tornou-se até inspiração. “O TCC foi sobre a minha campanha de solidariedade. Fui objeto de estudo também, mas consegui avaliar os fatos friamente. Foi bem satisfatório. Voltei do transplante com essa história”, explica. 

Os sonhos e objetivos estão aí para serem alcançados. Bruno Caldart é a prova de que é possível extrair o lado bom quando muitos só enxergam coisas negativas. Sobre o futuro, ele quer continuar seguindo seu caminho com bom-humor e, se tiver mais dificuldades, vai driblar como um bom atacante fazedor de gols.

Universidade de Caxias do Sul 

Discente: Bruno Mucke

Docente: Alessandra Paula Rech

Disciplina: Oficina de Jornalismo Impresso

Data: 09/09/2020

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